Comida & Emoção
As “confras” reúnem amigos, colegas de trabalho e familiares, dependendo do seu contexto. E, em meio a essa alegria e camaradagem, também podem surgir comentários inconvenientes sobre a aparência, hábitos, gostos, entre outros.
O uso excessivo de telas, principalmente o consumo de redes sociais e de conteúdos que estimulam padrões de magreza e comportamentos de risco, pode gerar problemas de autoimagem, ansiedade e depressão.
Cada indivíduo tem suas próprias necessidades e suas demandas físicas e emocionais. Por isso, quando falamos em equilíbrio, precisamos ter cuidado. Um sinal de que há algum descompasso é quando, por exemplo, existe cansaço e sofrimento em demasiado. Se estamos trabalhando em excesso, se a forma como nos alimentamos não nos traz satisfação ou está nos adoecendo, se não encontramos tempo para parar e respirar, por exemplo.
Quando se estabelece um padrão, também se cria exclusões. Precisamos, antes de tudo, desconstruir valores associados a comidas e tamanhos de corpos. Como pensamos o outro e nós mesmos está diretamente influenciado pelas palavras e seus significados.
É difícil dizer quando a saúde virou mercadoria, mas o fato é que, atualmente, ela é uma das indústrias mais lucrativas. E ela está majoritariamente associada à ideia de peso, alimentada pela cultura da dieta, para a qual saúde é igual à magreza. Vende-se, por tanto, uma ideia de bem-estar que só pode ser conquistada se a pessoa se encaixa em determinados padrões, o que, em geral, causa mais adoecimento e sofrimento.
Você já ouviu falar em racismo alimentar? Trata-se de um conceito que entende que a comida pode ser utilizada para agravar desigualdades sociais e estigmatizar, excluir e até dizimar grupos de pessoas. Se pensarmos que, apesar de ser essencial à vida, a alimentação ainda não é um direito garantido a todos, podemos ter dimensão do sofrimento imposto a milhões de pessoas no Brasil, para ficarmos circunscritos apenas ao nosso país.
Você já parou para perceber como os discursos em torno da alimentação, principalmente no que diz respeito às dietas, estão ligados a uma ideia de enfrentamento? É um reforço constante de que é preciso caber em um modelo específico de vida (e, aqui, estamos falando de medidas corporais, mas também de comportamentos) e, para isso, seria preciso abdicar de muita coisa.
É difícil dizer quando a saúde virou mercadoria, mas o fato é que, atualmente, ela é uma das indústrias mais lucrativas. E ela está majoritariamente associada à ideia de peso, alimentada pela cultura da dieta, para a qual saúde é igual à magreza. Vende-se, por tanto, uma ideia de bem-estar que só pode ser conquistada se a pessoa se encaixa em determinados padrões, o que, em geral, causa mais adoecimento e sofrimento.
Você já parou para pensar que nunca produzimos e consumimos imagens como atualmente? Selfies, registros de paisagens, comidas, anúncios que chegam disfarçados de "estilos de vida", vendendo uma "felicidade" enlatada: tudo isso nas palmas das nossas mãos. Quase sempre sem perceber, somos invadidos pela sensação de que algo está errado, pois existe uma constante falta, seja ela material ou simbólica.
O que comemos - e como comemos - é influenciado por vários fatores. Alguns, parecem mais evidentes, como, por exemplo, a influência da família, a cultura da região onde nascemos, comidas às quais temos acesso mais facilmente ou com as quais construímos relações afetivas. Outros, no entanto, muitas vezes passam despercebidos, mas têm impacto direto nas nossas vidas.
Transtornos Alimentares
A alimentação reflete nossos hábitos e pode indicar disfuncionalidades na nossa saúde emocional. Por isso, quanto mais acostumados estivermos em verbalizar nossos sentimentos, em colocar nossas necessidades, falar sobre nossas dores, apreciar nossas felicidades, mais leve costuma ser o processo.
Para além das suas manifestações físicas, os transtornos alimentares são resultado (e também intensificam) sofrimentos psicológicos.
A sociedade contemporânea é obcecada pela perfeição e pela imagem. Vivemos em uma era visual (e virtual), que é bombardeada por propagandas, fotos e vídeos nos meios de comunicação e nas redes sociais.
Você provavelmente deve ter visto ou está acompanhando os bates em torno do uso de medicamentos destinados para tratamentos médicos, como o de diabetes, para a perda de peso. Entre as várias questões que têm surgido em relação ao tema está a pressão social imposta sobre os corpos, principalmente os das mulheres, para que se encaixem em um padrão de magreza e, para isso, todos os meios seriam justificáveis, mesmo que coloquem em risco a saúde física e mental.
Muitas pessoas chegam até o consultório preocupadas por observarem algumas mudanças na relação com a comida. "Eu gostava tanto de tal coisa e hoje não consigo nem olhar" ou "Comer determinado alimento me trazia muita satisfação, mas hoje, é indiferente. Tem alguma coisa errada comigo?" são algumas das colocações que ouço com frequência. E não há resposta genérica: cada caso precisa ser observado individualmente.
Talvez você nunca tenha ouvido falar do termo Mukbang, mas é bem possível que já tenha se deparado com um vídeo desse gênero. Trata-se de uma prárica na qual uma pessoa se propõe a comer vários tipos de alimentos em grande quantidade, e em um rápido intervalo de tempo. Tudo isso transmitido ao vivo.
Quando você vê propagandas de roupas, beleza, produtos no geral, você consegue se enxergar? No cinema, na televisão, na música e em outras expressões artísticas, há pessoas que se pareçam com você? Não costumamos nos fazer essas perguntas com frequência, pois a padronização dos corpos e outras formas de opressão (racismo, LGBTQIA+fobia, capacitismo, só para citar algumas) criam a falsa impressão de que o "padrão" é o único caminho a se seguir. E só pessoas que se adequam a ele podem ser vistas. Nos últimos anos, porém, essa percepção tem sido cada vez mais desafiada.
É comum a gente ouvir que, no Brasil, o ano só começa depois do Carnaval. Muita gente planeja para depois dos festejos a realização de alguns objetivos, entre eles, a prática de exercícios e maior atenção à alimentação. O que poderia ser um movimento positivo, por vezes, pode significar uma forte pressão estética e social. Explico: ao invés de se motivar pelo autocuidado, um número grande de pessoas entende esse "foco" como uma obrigação, como se fosse preciso "compensar" os "excessos" que começaram lá atrás, entre o Natal e o Réveillon, e seguiram até a Folia de Momo.
Semanalmente vemos portais de notícia compartilharem notícias sobre estudos que afirmam ter encontrado a fórmula da alimentação "saudável". Cada uma com suas especificidades, elas costumam ter duas características em comum: impor uma forma única de comer e vilanizar alguns alimentos. A restrição é sempre apontada como a solução. O que, na verdade, é uma grande falácia. Dietas restritivas são apontadas como soluções quando, na verdade, podem ser um grande problema.
Em um de seus videoclipes, Swift é vista duplamente, como se houvesse uma voz, representada por ela mesma, sempre lhe julgando - inclusive durante uma cena em que ela sobe em uma balança e é recriminada por conta do seu peso. Um dos seus maiores hits traz um efeito importantíssimo pois, pautar transtornos de imagem e alimentares é uma necessidade urgente.
Acolhimento & Autocompaixão
Precisamos ficar atentos para não retrocedermos. É importante que cobremos das marcas que abram espaço para o diverso, para que criem produtos que acolham as diferentes formas de existir e também que possamos ter, no cotidiano, um olhar despido de preconceitos.
O racismo alimentar é, infelizmente, uma realidade que atravessa gerações e penaliza grupos socialmente invisibilizados e negligenciados.
Os encontros não serão sempre positivos. Às vezes, são experiências dolorosas, traumáticas até. As diferenças de perspectiva de vida, as invalidações da nossa voz, as dores que também podemos causar no outro, tudo isso é parte dessa experiência intensa e imprevisível que é viver.
É difícil dizer quando a saúde virou mercadoria, mas o fato é que, atualmente, ela é uma das indústrias mais lucrativas. E ela está majoritariamente associada à ideia de peso, alimentada pela cultura da dieta, para a qual saúde é igual à magreza. Vende-se, por tanto, uma ideia de bem-estar que só pode ser conquistada se a pessoa se encaixa em determinados padrões, o que, em geral, causa mais adoecimento e sofrimento.
O que é satisfação? Segundo o dicionário, é a "sensação agradável que sentimos quando as coisas correm de acordo com nossa vontade; alegria, contentamento, prazer". De uma forma mais ampla, podemos abranger a busca dela para vários aspectos da nossa vida. Todos queremos, de diferentes formas, nos sentir bem. A grande questão é que muitas vezes passamos a vida sem entender o que nos satisfaz de verdade, pois somos bombardeados constantemente por ideias pré-concebidas do que deveríamos sentir ou desejar.
Viver nossas vidas de acordo com nossas vontades, nossos gostos, muitas vezes parece uma tarefa difícil, tamanha a vigilância social - e a disposição do sistema em punir aqueles que escolhem não se conformar. Constantemente, vemos pessoas sendo criticadas pelos mais variados motivos, seja por questões de ordem estrutural, que fomentam discriminações a comunidades como um todo, seja de forma individual, quando alguém não se encaixa nos padrões.
Para celebrar o Dia Mundial da Saúde (7 de abril), o Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE), promoveu, nesta semana, uma roda de conversa sobre Consciência Alimentar, pauta de extrema relevância atualmente.
Por mais que gostemos de pensar que nossos gostos são frutos puramente dos nossos desejos individuais, isso não é verdade. Existe toda uma construção social, que perpassa a família, o convívio em sociedade e a cultura, que atravessam a construção da nossa identidade.
Quando você vê propagandas de roupas, beleza, produtos no geral, você consegue se enxergar? No cinema, na televisão, na música e em outras expressões artísticas, há pessoas que se pareçam com você? Não costumamos nos fazer essas perguntas com frequência, pois a padronização dos corpos e outras formas de opressão (racismo, LGBTQIA+fobia, capacitismo, só para citar algumas) criam a falsa impressão de que o "padrão" é o único caminho a se seguir. E só pessoas que se adequam a ele podem ser vistas. Nos últimos anos, porém, essa percepção tem sido cada vez mais desafiada.
29 de janeiro, Dia da Visibilidade Trans, gostaria de convidar vocês a fazer uma reflexão: quantas pessoas trans você conhece e/ou estão nos seus ciclos familiares, de amizade, de trabalho, sendo amadas? Esse questionamento não é em tom julgador, mas sim um exercício para que pensemos sobre a exclusão sistemática da comunidade trans nas mais variadas esferas da nossa sociedade.