Nutrição e linguagem: o poder das palavras na nossa alimentação e relação com o corpo

Quantas vezes você já ouviu, ao comer determinado tipo de comida, que se trata de algo “fitness”? Em inglês, a palavra é um substantivo, mas, em português, se tornou uma espécie de adjetivo. Não só para classificar comida, como também hábitos. Virou um sinônimo de saudável, já incorporado por grande parte da sociedade.

Esse é um exemplo de como a linguagem influencia nossa relação com a alimentação e com os nossos modos de vida. O que consideramos “bom” ou “ruim”, “saudável” ou “maléfico” é, antes de tudo, uma construção social que vai sendo naturalizada com o tempo. Termos como “low-carb”, “natural” e outros vão ganhando um significado que, quase automaticamente, nos faz pensar que estamos comendo algo mais “saudável” quando comparado a outros tipos de comida. No entanto, quando falamos em hábitos alimentares, em sentimentos e contextos de alimentação, eles são muito mais complexos do que só a comida em si.

Termos da cultura da dieta acabam entrando no nosso dia a dia, reforçando estereótipos. Nos sentimentos mais confortáveis quando nos deparamos com algo que julgamos ser socialmente aceito e julgados quando achamos que estamos fugindo do padrão (brincadeiras como “minha nutri vai brigar comigo” são comuns quando se posta fotos comendo algo considerado “junkie food”, por exemplo).

Quando se estabelece um padrão, também se cria exclusões. Precisamos, antes de tudo, desconstruir valores associados a comidas e tamanhos de corpos. Como pensamos o outro e nós mesmos está diretamente influenciado pelas palavras e seus significados. Ao associarmos valores às coisas do mundo, também desenvolvemos medos e afetos.

O trabalho da terapia alimentar passa pela palavra. Me interessa ouvir, também, como cada paciente se relaciona com a comida, pois é parte do tratamento entender como cada um constrói sua relação com a alimentação.

Fontes para saber mais sobre o assunto:

How Food-Fearing Language Impacts Buyers’ Perception, de Rebecca Riley

Our Language Affects What We See, de Carhrrine L. Caldwell