Mukbang e o perigo das "trends" que estimulam transtornos alimentares

Talvez você nunca tenha ouvido falar do termo Mukbang, mas é bem possível que já tenha se deparado com um vídeo desse gênero. Trata-se de uma prática na qual uma pessoa se propõe a comer vários tipos de alimentos em grande quantidade, e em um rápido intervalo de tempo. Tudo isso transmitido ao vivo.

A prática ganhou popularidade na Coreia do Sul a partir dos anos 2000, e resulta de mudanças no comportamento social. Com as pessoas comendo cada vez mais sozinhas, assistindo à TV ou em frente ao computador, a refeição como espaço de socialização foi se tornando mais rara. Em meio a essa solidão coletiva, cresceu a vontade de interagir e de querer ser visto, mesmo que virtualmente.

Nos últimos anos, com o crescimento das redes sociais e das "trends", o Mukbang vem se tornando cada vez mais visto - e perigoso. Seus praticantes, muitos deles jovens, comem compulsivamente para criar um espetáculo, o que pode causar um mal estar físico e, a longo prazo, estimular o desenvolvimento de transtornos alimentares.

O Mukbang não está associado à fome. Come-se para criar uma cena, para provocar, gerar engajamento. Nesse sentido, a percepção sobre as necessidades do próprio corpo vai se perdendo. A prática também normaliza o desperdício de comida: tudo é em grande quantidade, mesmo que a pessoa não aguente mais.

Precisamos ficar atentos aos conteúdos que consumimos e é necessário colocar em pauta essas questões. A alimentação não deve entrar em nossas conversas como um tema tabu ou cercado de punitivismo. O que se necessita é de seriedade e serenidade para acolher nossas questões e as do outro, que quase sempre passam pelo âmbito emocional, para além do estético.

A espetacularização do corpo e da comida é um fenômeno dos nossos tempos e é potencializada pelas redes sociais. Mas não podemos ver a Internet como uma inimiga. Ela é um espaço poderoso que pode trazer muitos benefícios. Que tal compartilharmos iniciativas que despertem essa consciência de forma gentil e não normativa?