Sobre a pressão por se encaixar em padrões e como ela pode nos adoecer
Você provavelmente deve ter visto ou está acompanhando os bates em torno do uso de medicamentos destinados para tratamentos médicos, como o de diabetes, para a perda de peso. Entre as várias questões que têm surgido em relação ao tema está a pressão social imposta sobre os corpos, principalmente os das mulheres, para que se encaixem em um padrão de magreza e, para isso, todos os meios seriam justificáveis, mesmo que coloquem em risco a saúde física e mental.
Somos expostos diariamente a propagandas, a produtos culturais e a matérias que associam um determinado tipo de corpo, majoritariamente magro e/ou com músculos definidos, às ideias de felicidade e longevidade.
E aí nos deparamos com celebridades que, de uma hora para a outra, surgem com uma nova silhueta. Muitas são acusadas de fazer uso desses medicamentos ou de se submeterem a procedimentos estéticos. A maioria nega e afirma que essas transformações são apenas frutos de exercícios físicos e mudanças na alimentação. Sem entrar em questões de juízo de valores, gostaria de me adentrar nesse aspecto do discurso de padronização dos corpos disfarçado de preocupação com a saúde, e como isso afeta a vida da grande maioria das pessoas.
Isso reforça uma ideia de um corpo ideal como resultado de muito esforço, de abdicação. Se para as celebridades é acessível ter acesso a essas formas de mudança corporal, para a maior parte da população não é assim. Até mesmo alterações na dieta podem ser difíceis para a maioria, por falta de condições financeiras. E então entramos em um grande ciclo de sofrimento no qual se culpabiliza aqueles que não estão no padrão estabelecido, como se fosse obrigatório ter determinadas medidas ou traços estéticos.
É preciso que, ao discutirmos os usos desses medicamentos ou de outras formas de emagrecimento ou mesmo de ganho de peso, pois há também quem faça dietas para ganhar massa, não fiquemos presos a discussões morais e de punição. É necessário, antes de tudo, que a gente aborde os riscos, conscientize sobre autoaceitação, sobre empatia, e lutemos contra a padronização adoecedora dos corpos.