A relação entre alimentação e cultura
Um dos livros que li recentemente e vem causando uma revolução na minha cabeça é "Comida como cultura" (Ed. Senac), do historiador italiano Massimo Montanari. Para quem estuda alimentação intuitiva, é um mergulho na raiz dos alimentos e das lógicas culturais que atribuímos a eles.
Para Montanari, entender a comida é um caminho fundamental para entender a condição humana em toda a sua complexidade, afinal, se trata do nosso componente cultural mais importante. Como ele diz, "a comida se torna cultura quando é produzida, preparada e consumida".
Como a comida se relaciona com a construção cultural?
A perspectiva dele é de uma exploração histórica da domesticação mútua entre comida e humanos, uma vez que a comida não nasceu como a gente entende ela hoje - ela foi se tornando comida, e ganhando vários sentidos, lógicas e atributos culturais ao longo dos anos.
O que nos fez cozinhar determinados alimentos? O que nos fez buscar tornar a comida algo saboroso? Como utilizamos os alimentos para criar novas transformações culinárias? Como a comida se tornou uma característica importante de sociedades, civilizações e culturas mundo afora?
Ao longo do livro, Montanari vai respondendo essas perguntas e nos dando detalhes maravilhosos sobre como a espécie humana se domesticou através da produção de alimentos, de seu consumo e especialmente seu cozimento.
Repensando a comida enquanto parte da nossa cultura
Saber desse contexto pode nos conectar com a alimentação de um outro jeito. Acho que me ajudou a abrir os olhos ainda mais para as maneiras como a nossa cultura hiperindustrializada e viciada em padrões estéticos inalcançáveis nos fazem enxergar a comida, nosso corpo e nossos gostos.
Montanari é professor de história medieval e história da comida e vem estudando o assunto desde os anos 1970. A leitura, apesar de "acadêmica", é deliciosa, suave e acessível. Ele não se prende a teorias, mas sim às práticas e aos processos históricos em si. Dá pra ler em um fim de semana.