Controle do corpo feminino e transtorno alimentar: uma relação possível
"Fecha a boca, menina". "Vai virar uma baleia". "Tá comendo que nem um menino". Para algumas pessoas, essas frases foram muito ouvidas na infância. Em casa, na vizinhança, na escola - proferidas por pais, irmãos, vizinhos, professores e até desconhecidos.
Claro que não existe divisão de gênero para sofrer esse tipo de violência. Mas, de acordo com estudos realizados no Brasil e em outros países, essa pressão recai muito mais sobre as meninas - e desde a mais tenra infância.
Por que o corpo feminino é controlado desde cedo?
Na sociedade em que vivemos, as meninas serão mulheres. E mulheres devem obedecer a uma série de imperativos: "perfeitas", magras, "educadas", "civilizadas", emocionalmente maduras, férteis, "princesas", "bonequinhas", calmas, pacientes, compreensivas, condescendentes. Essa lista ainda é bem maior...
O corpo feminino é sexualizado e adestrado desde muito cedo. Tudo para que ele funcione conforme os direcionamentos machistas da sociedade. Se nos impõem restrições alimentares, é para que sejamos magras, modelares, "padrão". Ou seja, aos moldes do que o machismo entende por "desejável".
Esse tipo de "instrução" nas fases de socialização das meninas costuma ser internalizado no formato de crenças. São crenças limitantes e danosas, que promovem o medo e a falta de auto-estima. Assim, não é de se estranhar que esse contexto se associe a transtornos alimentares como anorexia e bulimia.
Como o controle do corpo feminino se relaciona com os transtornos alimentares?
Como apontou a pesquisadora Emilia Moreira, o ambiente familiar e os meios de comunicação contribuem para este controle, desde os comentários de familiares durante as refeições ao culto à magreza propagado pela mídia.
No estudo feito pela UFSC, a autora também destacou que os transtornos alimentares se associaram a problemas nutricionais, à saúde bucal e a prejuízos sociais vários.
Indo mais além, um estudo da Universidade do Texas (Brian Wansink, 2016) dialoga diretamente com a pesquisadora ao constatar que comentários de pais a suas filhas geraram consequências em sua vida adulta - especificamente, insatisfação corporal, o que é uma pré-disposição para distúrbios alimentares.
Ainda precisamos avançar (muito) nessas discussões. Mas, para lutar contra isso tudo, é importante ter em mente que padrões de beleza, machismo e gordofobia andam de mãos dadas. Com o primeiro passo dado rumo à desconstrução de conceitos tão impregnados, uma discussão saudável é possível. Que tal falar mais sobre o assunto?