Anorexia e o mito da felicidade do corpo ideal

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Anorexia parace uma doença rara e pouco conhecida para você? A busca frenética pelo corpo ideal é mais familiar? Toda essa vontade de atingir padrões corporais te deixa mais distante da felicidade real, aquela que pode ser vivida agora.

“Eu tenho uma amiga que, toda vez que eu como - pode ser um abacaxi, uma torta ou um arroz com feijão - me critica a cada mastigada. Eu como, ela grita. Eu como, ela chora. Eu como, ela morre de desgosto. Às vezes acho que ela tem medo porque alimento é vida e ela deve achar que eu não mereço muito bem a vida. Seja porque for, ela é bem inconveniente. Fala alto sempre que eu pego no garfo, conta as calorias dos pratos da mesa e não tem outro papo, além disso. E vive correndo em círculos. Medo, comida, culpa. Todos à sua volta falam que ela está louca. Mas quanto mais ouve, mais tem certeza: a comida (ou sei lá, a vida) não é para ela.”

A anorexia não te define

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Ei, você que sabe o que é ter um transtorno alimentar - ou na verdade, qualquer transtorno - já tentou entendê-lo como uma outra pessoa vivendo na sua cabeça? Não estou aqui para romantizar esse processo, eu sei como é difícil. Mas para lembrar-lhes que esse exercício, principalmente quando o colocamos no papel, serve para nos mostrar que nós não somos o transtorno.

Somos tão mais que isso.

Você é maior que tudo isso.

Embora às vezes pareça que não.

Embora muitas vezes as pessoas só nos vejam assim. “A menina com anorexia”. “O menino bulímico”. Mas olha pela janela, já viu o quanto tá de errado no mundo? Pois é, a sociedade erra nisso também: estigma, preconceito, esteriótipo, reducionismo.

Você não é o seu transtorno, você é muito além dele. Eu sei que às vezes esquecemos porque os transtornos alimentares como anorrexia, bulimia e compulsão alimentar têm a capacidade de tirar a energia de qualquer pessoa e ocupar todo seu mapa mental.

Ferramentas para se libertar

Independente da anorexia e da ideia de corpo ideal, lembre-se que você é também o seu gosto por escrever, pela arte, os vários seus tipos de sorrisos, a compreensão com seus amigos, o zelo pelos animais, a preocupação com o lixo reciclável, a forma meio que você dança, o seu gosto musical.

São tantas versões de você que não caberiam na definição de um transtorno alimentar. É possível libertar a mente da ideia de corpo ideal, da necessidade de aprovação, do medo de engordar e de tantas outras ideias aprisionadoras.

Olhar atencioso para si como esse ser completo e complexo é uma ferramenta para se libertar.

Acredito que também escrever sobre a doença (ex: anorexia) como se fosse uma outra pessoa não fará com que você se livre dela - nada é tão simples assim - mas, até onde tenho visto, pode ser uma ferramenta extremamente libertadora. E, quem sabe, assim, conseguir começar a enxergar as pequenas flores do seu jardim.

Perto do corpo ideal e tão longe da felicidade

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“Eu vou ser feliz quando eu for magra”.

A maioria das pessoas não diz isso em voz alta, mas tantos de nós dizem isso para si mesmos, várias vezes no dia. E talvez você tenha pensado que realmente nunca disse. Tem certeza?

Eu vou para tal praia, quanto tiver com o corpo assim.

Eu vou malhar pesado hoje, porque sábado que vem tem aquela festa. Eu vou ter amor, emprego, vida social... quando eu tiver o corpo tal.

Sim, o que é a praia, a viagem, uma saída com os amigos, senão felicidade?

A gente se esforça tanto para não estragar a viagem, com a gordura localizada, com a barriga imperfeita ou com nossas celulites, que nos esquecemos de não estragar a vida condicionando nossa felicidade ao nosso corpo.

Existem dois grandes problemas com esses condicionamentos. O primeiro é que são insuficientes.

Chegamos ao peso quisto, achamos outro condicionante: a flacidez, a estria, a falta de plástica.

Atestando nosso insucesso em sermos perfeitos, vamos nutrindo uma raiva irracional pelo nosso corpo.

E o outro é que, nessa busca incessante, nos deparamos com receitas imediatistas. Com elas, as dietas restritivas.

Mágica! Parece feitiço para resgatar a pessoa querida. “Devolvo o tanquinho amado em cinco dias”.

Muitas vezes essas dietas e fórmulas mágicas são ponta-pés iniciais para o desenvolvimento de transtornos alimentares como a a anorexia.

Somos tão espertos. Trabalhamos, estudamos, somos ótimos filhos, pais, mães.... Mas ainda caímos nesse jogo de ficar entre a cruz do corpo ideal inalcançável e a espada dos métodos problemáticos.

Aprendendo a só ser

Tudo que reprimimos acaba voltando com mais força lá na frente. E aí sentamos na gangorra: seja dos corpos, que não aguentam a pressão, seja da mente - felizes por cinco minutos, insatisfeitos a vida toda.

Não tem problema algum em querer perder peso. O problema é condicionar nossa felicidade a isso.

Mas e se, veja que ideia louca, ousássemos nos permitir felicidade apesar do que achamos do nosso corpo. Se ousássemos tirar o “se” quando o assunto é nossa existência. Ser, somente.

Aqui uma música para você pensar com carinho sobre ser, além do corpo.

Quando aprendemos a nos condicionar, esquecemos o que é merecer. Porque há sim vida além da gangorra. E não, esse não é mais um feitiço charlatão. É um processo, a longo prazo (quase nunca livre de dores) de reconstruir relações: com os alimentos, com o espelho e com todos momentos perdidos odiando a nós mesmos.

Acha que eu posso te ajudar a enfrentar seu transtorno alimentar? Entre em contato! Sou Ellen Cocino, faço parte da Academy for Eating Disorders (AED). A Nutrição que realizo sai dos padrões habituais: busco a mudança de comportamento alimentar incentivando uma melhor relação com a comida. Trabalho diretamente com Nutrição Comportamental e Transtornos Alimentares de forma humana e gentil.